Abandonada mansão do investidor de Titanic oferece um trágico vislumbre do passado

A Lynnewood Hall já foi até chamada de "o último Versalhes da América". Por sua estrutura, esta grande propriedade do estado da Pensilvânia parece mesmo estar à altura desse grandioso apelido. No entanto, ao observar as fotos, você verá rapidamente que a antiga mansão está em ruínas. Logo, este é o atual estado de Lynnewood Hall, que pertenceu a um investidor do transatlântico Titanic.

Pelo visto, até as terras da propriedade foram reduzidas. Afinal, Lynnewood Hall era rodeada inicialmente por mais de 140 hectares da pitoresca Pensilvânia, contudo, hoje em dia a área é cercada por apenas 13 hectares. De todo modo, ainda há espaço verde o suficiente para manter a casa fora da vista do público e envolta em mistério.

Assim, revelaremos o passado dessa mansão que serviu como cenário para a trágica história de seus proprietários. Bem, após a morte de sua esposa em um acidente em alto-mar, Peter Arrell Brown Widener concentrou-se na expansão de Lynnewood Hall para abrigar seus filhos e suas famílias. Aliás, um tempo depois, ele sofreu ainda mais ao investir no infeliz empreendimento que resultou em inúmeras vidas perdidas no oceano. De fato, trata-se do Titanic.

Enfim, antes dessa catástrofe, Widener havia construído - em forma de "T" - uma enorme mansão com 6.500 m². Devido a sua vasta coleção de arte, ele também precisava de um amplo espaço para organizá-la. Algumas pessoas, inclusive, até denominavam o lugar de "a casa que a arte construiu" por isso. Porém, não foram apenas as obras-primas de El Greco, Rembrandt e Raphael que tornaram o lugar tão especial.

Ao que parece, como a Lynnewood Hall foi construída com o propósito de reproduzir a antiga arquitetura francesa, grande parte de seu interior era coberto de veludo, dourado, seda ou ornamentado de outra maneira. Antigamente, isso era uma cena e tanto. Todavia, no momento, o lugar está fora de uso há décadas, levando a impressionante propriedade a um assombroso estado de degradação.

A história de Lynnewood Hall; o aspecto filantrópico de seu antigo proprietário; a conexão com o Titanic; e a beleza do imóvel podem ser o que salvará a mansão, visto que um crescente número de pessoas está sendo atraído por isso e se empenhando para que o local seja restaurado. Entretanto, se alguém quiser evitar o trágico fim dessa casa, é bom ser rápido.

Salvar Lynnewood Hall provavelmente preservará o que sabemos sobre o próprio Widener, o qual nasceu em 1834 na cidade de Filadélfia, Pensilvânia. Criado por pais pobres, ele deu início a sua vida profissional como açougueiro, mas logo demonstrou talento para o empreendedorismo ao fundar o que se tornaria uma rede de lojas de carne.

Widener também se envolveu no cenário político da Filadélfia ao assumir o cargo de tesoureiro da cidade em 1873, estabelecendo contatos ao longo do caminho que impulsionariam sua carreira mais tarde. Após isso, sua maior conquista talvez tenha sido seu trabalho com o sistema ferroviário urbano da cidade.

Junto com seu parceiro William L. Elkins, Widener trabalhou para tornar a estrada de ferro da Filadélfia mais simples e moderna. Então, ambos passaram a investir não só nos sistemas de transporte de Chicago e Nova York, como também em serviços de utilidade pública por todo o país. Foi desse modo que Widener e Elkins se tornaram indivíduos bem importantes. Em certo momento, eles chegaram até mesmo a controlar uma carteira de investimentos de 1,5 bilhões de dólares.

Como Widener já tinha algum dinheiro na década de 1880, ele comprou uma casa de verão em Elkins Park. O lugar chamava-se Linwood Hall e tinha uma pitoresca paisagem, repleta de lindas colinas e um riacho.

Contudo, a casa em si não atendia completamente às necessidades de Widener. Em especial, em relação à imensa coleção de arte desse homem de negócios. Portanto, Widener trouxe o arquiteto Angus S. Wade para expandir a propriedade de maneira que ele pudesse exibir adequadamente seu acervo de caras e importantes obras.

Uma tragédia familiar, no entanto, inspirou Widener a fazer mais alterações na propriedade que viria a ser conhecida como Lynnewood Hall. Isso porque Hannah, a esposa do empreendedor, morreu inesperadamente enquanto navegava pela costa do Maine em 1896. Em homenagem, Widener doou a casa que tinham na cidade para a Biblioteca Pública da Filadélfia.

A Lynnewood Hall tornaria-se, assim, a residência principal da família Widener. Por conta disso, o empresário decidiu que a propriedade precisaria de mais uma mudança, pois desejava que seus filhos e suas famílias morassem lá. Também, mais espaço era necessário para sua arte, a qual transbordava de sua antiga residência.

Logo, Widener contratou Horace Trumbauer para tomar conta da nova fase de reformas da mansão. Hoje, Trumbauer é conhecido como um mestre do estilo arquitetônico Beaux-Arts nos Estados Unidos, que cresceu desde os anos 1830 até a virada do século 20 e incorporou às construções elementos góticos, neoclássicos e renascentistas.

No caso de Lynnewood Hall, Trumbauer inspirou-se em duas imponentes residências. A primeira, chamada Prior Park, era próxima a um lago na cidade de Bath, Inglaterra. Já a segunda, era localizada em Nova Jersey e denominada de Ballingarry.

A verdade é que Lynnewood Hall não é conhecida somente pelo seu ornamentado estilo arquitetônico ou famoso proprietário. Afinal, a maioria das pessoas consideram a mansão como um resquício de uma família marcada pela tragédia. Até porque os Widener não sofreram apenas com a morte de sua matriarca.

Foi mencionado anteriormente que Widener investiu em um importante navio histórico e, de fato, ele foi um dos empreendedores do luxuoso RMS Titanic. Tanto que, em 1912, aquele desafortunado navio transportou alguns membros da família Widener em sua primeira viagem.

Dessa forma, o filho de Widener, George, sua esposa Eleanor e seu filho Harry embarcaram no Titanic com a intenção de voltar para casa depois de umas férias na Europa. A propósito, George chegou a organizar uma elegante festa a bordo para celebrar a grandiosidade daquele navio; o magnífico investimento de seu pai. Aparentemente, até mesmo o capitão do Titanic, E. J. Smith, esteve nesse jantar.

O prestígio da família Widener, porém, não os salvou da tragédia que arrebatou o Titanic. Como você deve saber, o navio atingiu um iceberg e afundou no Oceano Atlântico, resultando na morte de mais da metade das 2.224 pessoas que se encontravam lá. Infelizmente, nessa estatística estavam George e Harry.

A Lynnewood Hall ficou, portanto, conhecida por seu sombrio vínculo com o Titanic - algo que, sem dúvida, atormentou Widener até sua morte em 1915. Então, após o falecimento do empreendedor, seu filho Joseph herdou a imensa propriedade. Todavia, aquele não era um imóvel qualquer, já que supostamente era necessária uma equipe de 37 pessoas para organizar a mansão e mais 60 indivíduos para cuidar do jardim.

Joseph assumiu a responsabilidade e cuidou de Lynnewood Hall tão bem quanto seu pai havia feito. O fato dele compartilhar do amor de Widener pela arte ajudou nessa tarefa, de modo que Joseph deu continuidade à curadoria da impressionante galeria da propriedade. Aliás, a mansão foi aberta ao público no período de 1915 a 1940 para que também desfrutassem da coleção.

Ao final de sua vida, entretanto, Joseph doou grande parte das famosas obras de arte de Lynnewood Hall. Ao que parece, em 1940 ele entregou mais de 2 mil preciosas peças à Galeria Nacional de Arte de Washington, D.C.. Inclusive, na época, avaliaram aquelas pinturas, esculturas e peças de porcelana em 19 milhões de dólares.

Infelizmente, Joseph morreu três anos depois desses acontecimentos, deixando o futuro de Lynnewood Hall nas mãos de seus dois filhos. No entanto, nenhum deles quis o trabalho de cuidar da enorme propriedade. Assim, ambos abandonaram a mansão, deixando com que o tempo a destruísse.

Evidentemente, isso fez com que Lynnewood Hall fosse desvalorizada. De todo jeito, as últimas mudanças realizadas por Widener haviam custado, ao que tudo indica, 8 milhões de dólares. No final, a mansão possuía 55 quartos, 20 banheiros, uma galeria de arte e um salão de festas grande o suficiente para acomodar mil pessoas. Os filhos de Joseph, por sua vez, venderam a Lynnewood Hall em 1948 pela quantia surpreendente baixa de 130 mil dólares.

Logo, o Faith Theological Seminary comprou a mansão em 1952, desembolsando somente 192 mil dólares pela incrível propriedade. Dessa maneira, presumia-se que a casa seria finalmente reformada, contudo, esse não foi o caso. Na verdade, a situação conseguiu piorar, pois mais de 140 hectares das terras da família Widener foram vendidas.

Além disso, o Faith Theological Seminary foi responsável por comercializar muitas coisas da casa. Aparentemente, o grupo chegou a vender não só as cornijas e os painéis de madeira nogueira, como também alguns raros ornamentos do jardim. Com isto, já é possível imaginar como está a atual situação de Lynnewood Hall. Pois é, restou apenas a carcaça da antiga mansão.

Começaremos apresentando, então, a galeria, a qual foi um dia coberta pelas obras de arte que Widener havia cuidadosamente colecionado ao longo de sua vida. Bem, hoje em dia as paredes estão vazias, pois todas as peças do antigo proprietário foram tanto doadas quanto vendidas. Porém, você pode ter uma ideia do esplendor desse espaço só de olhar para a intrincada abóbada de vidro.

A propósito, a Lynnewood Hall possuía um impressionante salão de festas com mais de 235 m². Por dentro, detalhes em ouro brilhavam pelo teto adornado com flores e pelas paredes de madeira nogueira. O grande espaço, ao que tudo indica, também tinha caneladas colunas, ricas tapeçarias e arqueadas janelas.

Aliás, os bancos provavelmente foram acrescentados no salão de festas pelo pessoal do Faith Theological Seminary. Portanto, além da deterioração devido aos anos em que a casa foi abandonada, essa questão das cadeiras também mudou a aparência do local. De todo modo, o dourado teto continua reluzindo e proporcionando um vislumbre do quão magnífico o lugar costumava ser.

Além do mais, a Lynnewood Hall já teve uma piscina coberta e vestiários. Uma quadra de squash também ficava ali por perto. Todavia, essa área de lazer encontra-se muito longe de ser o que era, visto que agora o espaço da piscina está repleto de escombros.

Como muitos de seus aspectos mais cativantes desapareceram, o hall de entrada perdeu um pouco de seu brilho. Principalmente porque, de acordo com a página oficial da Lynnewood Hall no Instagram, os quatro lustres da mansão, elaborados por Edward F. Caldwell, foram vendidos. A verdade é que a casa nem mesmo possui as portas de ferro forjado da entrada.

De toda forma, ainda se pode apreciar o salão principal. Embora tenham desmontado o local e vendido tudo o que havia lá, isso não removeu os imponentes moldes e arcos das paredes e dos tetos. As sacadas do andar de cima do salão, inclusive, contém os arabescos de ferro que um dia também cobriram a porta da entrada da mansão.

Após décadas de negligência, outros espaços estão igualmente degradados, como a sala do café da manhã, que conta com um alto teto e detalhados moldes por toda parte. Entretanto, é fácil imaginar como o local era quando a mansão estava sendo bem cuidada.

A sala de recepção, por estar mais conservada, já expõe bem o quão esplendorosa era essa casa. Assim, os detalhes dourados ainda brilham contra a madeira escura. A conta da Lynnewood Hall no Instagram - que compartilha fotos da mansão para aumentar a conscientização sobre a propriedade e sua necessidade de restauração - até afirmou uma vez que esta é certamente "a sala mais glamourosa da casa".

Apesar de terem sido ainda mais incríveis anteriormente, até os aposentos dos antigos empregados possuíam essa mesma grandiosidade. Logo, é possível notar uma escada de ferro forjado que conecta a passagem dos funcionários da despensa à sala de café da manhã e à sala de jantar. De qualquer maneira, tirando os pedaços de tinta descascados da parede, essa parte configura-se como uma fantástica característica arquitetônica.

Ainda que a Lynnewood Hall tenha sido abandonada e negligenciada, ela pode ser reparada - por enquanto, pelo menos. Além disso, como a casa mudou de proprietário algumas vezes nos últimos anos, isso pode levar alguém a dar um passo à frente e restaurar essa espetacular mansão.

Seja como for, a Lynnewood Hall é muito cara para ser comprada por impulso. Em 2014, a propriedade foi anunciada no mercado por um valor de 20 milhões de dólares. Depois disso, a mansão já esteve à venda algumas outras vezes, no entanto, sempre listada a um preço cada vez menor. Em 2019 mesmo, os proprietários queriam somente 11 milhões de dólares por essa histórica casa.

Contudo, alguns especialistas afirmam que comprar Lynnewood Hall é apenas o começo do processo. Mary DeNadai, especialista em restauração histórica, contou ao jornal The Philadelphia Inquirer, em setembro de 2020, que uma básica reparação do local custaria 10 milhões de dólares. Porém, deixar a propriedade em seu antigo e exuberante estado custaria cinco vezes mais que isso.

Todavia, o tempo é uma questão essencial no caso de Lynnewood Hall. Em 2014, DeNadai já havia esclarecido ao jornal que qualquer restauração teria que ser feita rapidamente a fim de evitar que a mansão se tornasse uma causa perdida. Em sua opinião, resta apenas uma década ou mais antes de Lynnewood Hall "não ter mais salvação".

Por sorte, Richard S. Yoon, um médico e pastor de Nova York, é o atual dono da propriedade. Talvez, então, ele logo a restaure. Além do mais, muitas pessoas estão não só sendo atraídas pelo passado da mansão, como também se empenhando para que a casa seja reparada. Portanto, a história de Lynnewood Hall ainda tem chance de continuar por anos se a pessoa certa decidir finalmente trazer de volta aquele magnífico interior.